O ano de 2024 em Portugal continental classificou-se como quente em relação à temperatura do ar e seco em relação à precipitação.
Precipitação e temperatura
- O ano de 2024 registou o décimo quarto valor mais baixo de precipitação desde 2000.
- 70% da precipitação do ano ocorreu em 4 meses (janeiro, fevereiro, março e outubro).
- 2024 foi o quarto ano mais quente desde 1931 com uma temperatura média do ar superior em 0,94°C à normal 1981-2010 (15,55ºC).
- 2024 registou a quarta temperatura máxima do ar mais alta, e a terceira temperatura mínima do ar mais alta, desde 1931.
- Registaram-se 64 novos extremos da temperatura máxima do ar e 177 da temperatura mínima do ar.
- Em 2024, verificaram-se 8 ondas de calor em Portugal continental: 2 no inverno, 4 na primavera e 2 no verão.
- O número total de dias em onda de calor registados no continente, em 2024, foi de 720 dias, correspondendo ao segundo valor mais elevado desde 1941 (em 2022 foram registados 929 dias em onda de calor).
Descrição:
A precipitação desempenha um papel vital nos setores da agricultura, abastecimento público de água, produção de energia, indústria, turismo e ecossistemas naturais. Em conjunto com a temperatura, é um dos indicadores mais importantes para caracterizar o clima de uma dada região.
A temperatura média anual do ar à superfície da terra é um indicador essencial para a avaliação do estado do ambiente, para além de ser um dos que é monitorizado há mais anos, é também o principal indicador para a monitorização das alterações climáticas. O aumento da temperatura, em grande parte devido à emissão de gases com efeito de estufa (GEE), influencia, entre outros, o nível do mar, a intensidade e frequência das cheias e das secas, as espécies e os habitats, o rendimento das culturas agrícolas e as doenças infeciosas.
Conforme convencionado pela Organização Meteorológica Mundial, o clima é caracterizado pelos valores médios dos vários elementos climáticos num período de 30 anos, um número de anos suficientemente longo para representar o valor médio daquele parâmetro num local considerado.
O aumento da temperatura média do ar global à superfície observado durante os últimos 50 anos tem vindo a constituir uma das principais motivações dos estudos sobre alterações climáticas.
De acordo com a Organização Meteorológica Mundial, desde que se iniciaram os registos à escala planetária, o ano de 2024 destacou-se como o ano mais quente, sendo 2016 e 2023, respetivamente, os segundo e terceiro mais quentes, no que se refere à temperatura média do ar global à superfície.
Em Portugal continental, a análise dos dados observados indica que, à semelhança do resto do Planeta, o clima português sofreu, ao longo do século XX, uma evolução caracterizada por dois períodos de relativo aquecimento, intercalados por um período de relativo arrefecimento. No entanto, desde a década de 70, a temperatura média anual tem subido em todas as regiões de Portugal a uma taxa de cerca de 0,3°C/década. Do ponto de vista dos extremos de temperatura, verifica-se uma tendência para a ocorrência de mais ondas de calor e com maior duração assim como mais noites e dias muito quentes (temperatura mínima do ar superior ao percentil 90 e temperatura máxima do ar superior a 35°C, respetivamente) e menos dias e noites frias (temperatura máxima e temperatura mínima inferiores ao percentil 10).
A ocorrência de ondas de calor e de frio tem impactes significativos em várias atividades socioeconómicas, tais como na saúde, agricultura, incêndios rurais, produção e consumo de energia[1].
As ondas de calor podem ocorrer em qualquer altura do ano, no entanto são mais notórias e sentidas pelos seus impactes quando ocorrem nos meses de verão (junho, julho e agosto). Por outro lado, a ocorrência de ondas de frio é um fenómeno que, podendo verificar-se em qualquer época do ano, é mais notório e por vezes com impactes adversos (por exemplo, na saúde) nos meses de inverno.
Apesar de relativamente comuns no clima português, de tipo mediterrânico, sobretudo no verão, quando associadas a circulações anticiclónicas de sul e de este, as mais intensas e com maior duração, podem ser responsáveis por uma mortalidade acentuada nos grupos de risco mais elevado.
Notar, ainda, que uma onda de calor com temperaturas máximas ou gradientes de temperatura superiores aos previstos no dimensionamento das construções pode causar situações de insegurança, por deficiente comportamento dos materiais, dos elementos estruturais ou dos seus apoios.
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Conceitos «Onda de calor» ou «HWDI – Heat Wave Duration Index», ocorrência de, pelo menos, seis dias com valores da temperatura do ar muito altas, isto é, com temperaturas de 5˚C ou mais, acima dos valores médios de referência. «Onda de frio» ou «CWDI – Cold Wave Duration Index», sequência de, pelo menos, seis dias com valores da temperatura do ar muito baixas, isto é, com temperaturas 5˚C ou mais abaixo dos valores médios de referência. [Fonte: WCDMP-No.47, WMO-TD No. 1071] |
Contribuição para os ODS
[1] SIAM (2002), Climate Change in Portugal: Scenarios, Impacts and Adaptation Measures. F.D. Santos, K. Forbes e R. Moita (Eds), Gradiva, Lisboa, 454pp.
Objetivos:
- Analisar a evolução anual da temperatura e precipitação em Portugal continental.
- Avaliar a ocorrência de períodos de ondas de calor e de frio, sua duração e intensidade em Portugal continental.
- No âmbito da Política externa climática, a Lei de Bases do Clima defende o reforço, antecipação e cumprimento das metas de redução de emissões de GEE, de modo suficiente a não ultrapassar o limite de 1,5ºC de aquecimento global, face aos níveis pré-industriais.
- Em fevereiro de 2025, a Agência Europeia do Ambiente publicou o Relatório de avaliação e balanço dos progressos realizados em relação aos objetivos estabelecidos no âmbito do 8.º Programa de Ação em matéria de Ambiente (PAA). Este programa estabelece o quadro da política ambiental da UE até 2030, com a definição de objetivos e indicadores-chave correspondentes a domínios que abrangem a neutralidade climática, uma economia eficiente em termos de recursos, a inversão da perda da biodiversidade e a redução da poluição. Nas conclusões identificam-se vários indicadores com metas que evidenciam progressos limitados e que poderão ficar aquém das metas fixadas para 2030. O relatório recomenda o fortalecimento de incentivos ambientais, da base do conhecimento ambiental, financiamento e integração da política ambiental com outras políticas.
Principais instrumentos de política
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Análise da evolução:
Precipitação e Temperatura
Temperatura do ar e precipitação anual em Portugal continental (período 1941-2024)
Fonte: IPMA, 2024
Anomalias da quantidade de precipitação anual em Portugal continental, em relação à normal 1981-2010
Fonte: IPMA, 2024
Em 2024, a precipitação média anual em Portugal continental, 799,2 mm, foi inferior ao valor normal 1981-2010, com uma anomalia de menos 42,3 mm. Nos últimos 6 anos, as anomalias anuais de precipitação foram sempre negativas.
Desvios do total de precipitação anual em 2024, em relação à normal 1981-2010
Fonte: IPMA, 2024
Durante o ano de 2024, quatro meses registaram valores de precipitação abaixo do valor normal 1981-2010, quatro meses registaram valores muito próximos e quatro meses acima da média. Destacam-se a anomalia positiva do mês de março (muito chuvoso) e a anomalia negativa do mês de dezembro (extremamente seco).
De salientar, ainda no ano de 2024, em relação à precipitação:
- Março, muito chuvoso: quarto mais chuvoso desde 2000; a quantidade média mensal de precipitação foi quase três vezes superior à normal 1981-2010 (286%).
- Junho, muito chuvoso: quinto mais chuvoso desde 2000.
- Agosto, muito seco: quinto mais seco desde 1931, e o mais seco dos últimos 35 anos.
- Dezembro, extremamente seco: o mais seco desde 1931; o total de precipitação registada corresponde a apenas 12% do valor normal 1981-2010.
Anomalias da temperatura média anual em Portugal continental, em relação à normal 1981-2010
Fonte: IPMA, 2024
O valor médio da temperatura média anual, em 2024, 16,49°C, foi 0,94°C superior à normal climatológica 1981-2010, sendo o quarto ano mais quente desde 1931. Dos 30 anos mais quentes registados em Portugal continental, 23 ocorreram depois de 1990 e 17 depois de 2000. Os anos de 2022 e 2023 foram os mais quentes desde 1931, em Portugal continental.
Variabilidade da temperatura do ar máxima e mínima anual em Portugal continental
Fonte: IPMA, 2024
O valor médio da temperatura máxima anual do ar (21,97°C) foi o terceiro valor mais alto desde 1931 (o mais alto foi registado em 2017, 22,82°C), mais 1,13°C em relação à normal 1981-2010. Nos últimos 12 anos registaram-se sempre valores de temperatura máxima anual acima da média.
O valor médio da temperatura mínima anual do ar, 11,00°C, foi o quarto valor mais alto desde 1931 (mais alto em 1997, 11,26°C), mais 0,74°C em relação à normal.
Desvios da média da temperatura mínima e máxima do ar em 2024, em relação à normal 1981-2010
Fonte: IPMA, 2024
Durante o ano de 2024 destacam-se os valores médios de temperatura máxima do ar acima do normal, exceto nos meses de março, junho e setembro. Os maiores desvios positivos (superiores a 2,0°C) registaram-se nos meses de janeiro (o mais quente desde 1931), fevereiro, abril e novembro.
Os valores médios mensais da temperatura mínima do ar também foram quase sempre superiores à média (exceto em maio, setembro e dezembro), destacando-se as anomalias positivas (superiores a 2,0°C) nos meses de janeiro, fevereiro e novembro.
De salientar, ainda no ano de 2024, em relação à temperatura:
- Janeiro, extremamente quente: terceiro mais quente desde 1931 e o mais quente dos últimos 58 anos; verificaram-se 31 novos extremos da temperatura máxima e 43 novos extremos da temperatura mínima do ar
- Fevereiro, extremamente quente: o mais quente desde 1931; foram ultrapassados os anteriores máximos da temperatura mínima do ar em cerca de 60% das estações meteorológicas da rede do IPMA (algumas das séries de dados têm mais de 80 anos);
- Abril, muito quente: décimo mais quente desde 1931; destaca-se o período muito quente de 11 a 14 de abril com anomalias positivas na ordem dos 9°C nos valores da temperatura máxima do ar; em alguns locais do Vale do Tejo e Alentejo ocorreram 13 dias consecutivos com temperatura máxima superiores ou iguais a 25°C e 4 dias consecutivos com valores superiores a 30°C;
- Novembro, extremamente quente: o mais quente dos últimos 94 anos, com uma anomalia positiva de 2,69°C em relação à normal; destacam-se também a temperatura mínima do ar, a terceira mais alta desde 1931 e a temperatura máxima, a quarta mais alta desde 1931 (anomalia: +2,50°C).
Ondas de calor
Desde a década de 1940, período em que existe informação meteorológica diária num maior número de estações, têm-se verificado ondas de calor, de extensão espácio-temporal variável.
Nos últimos 30 anos têm-se observado, em Portugal continental, mais eventos de ondas de calor extremos no período do verão. Esta situação tem sido notória em todo o território, no entanto, são as regiões do interior Norte e Centro (distritos de Bragança, Vila Real, Viseu e Guarda) e o Alentejo (distritos de Setúbal, Évora e Beja) as mais afetadas.
Os episódios mais severos de ondas de calor (maior número de ondas de calor e maior número de dias em onda de calor) verificaram-se depois de 1990 na região interior Norte e Centro e depois de 2000 na região Sul. Os verões com maior percentagem de estações meteorológicas que registaram ondas de calor no verão desde 2000 foram: 2013 (89%), 2006 (85%), 2003 (76%), 2018 (74%) e 2022 (74%).
O maior número total de dias em onda de calor, 918 dias, ocorreu no verão de 2022, com a contribuição significativa da região Nordeste. Nesta região, em algumas estações verificaram-se quatro ondas de calor, a que correspondeu um total de dias em onda de calor superior a 40 (Bragança, Mirandela e Carrazeda de Ansiães, com 44, 42 e 41 dias, respetivamente). Destacam-se, ainda, os anos de 2003 e 2006 com mais dias em onda de calor (687 e 667 dias, respetivamente).
Durante o ano de 2024 foram registadas oito ondas de calor: duas no inverno, quatro na primavera e duas no verão. De salientar que entre os meses de janeiro e agosto se verificou a ocorrência de pelo menos uma onda de calor, com exceção do mês de junho em que não ocorreu nenhuma.
- 21 de janeiro a 5 de fevereiro: onda de calor registada em cerca de 33% das estações meteorológicas, que cobriam grande parte das regiões do território; duração máxima da onda de calor, 15 dias em Penhas Douradas. Pela sua extensão espacial e temporal, pode ser considerada a onda de calor mais significativa observada no mês de janeiro desde 1941.
Estações em onda de calor, em janeiro/fevereiro de 2024
Fonte: IPMA, 2024
- 12 a 22 de fevereiro: onda de calor registada nas estações meteorológicas de Miranda do Douro (9 dias: 12 a 20) e Bragança (6 dias: 16 a 21).
- 15 a 24 de março: onda de calor nas regiões do interior Norte e Centro de Portugal continental, com uma duração entre 8 e 10 dias.
Estações em onda de calor, em março de 2024
Fonte: IPMA, 2024
- 10 a 24 abril: onda de calor de 10 a 24 de abril, com a duração máxima de 15 dias em Alcácer do Sal e que abrangeu grande parte do território, com exceção do litoral oeste da região Centro e do Algarve.
Estações em onda de calor, em abril de 2024
Fonte: IPMA, 2024
- 7 a 12 de maio: com a duração de 6 dias, abrangendo algumas localidades do interior Centro e Sul de Portugal.
- 27 de maio a 6 de junho: com a duração máxima de 11 dias, abrangendo algumas localidades do Norte, região interior Centro, vale do Tejo e interior da região Sul.
Estações em onda de calor, em maio/junho de 2024
Fonte: IPMA, 2024
- 23 a 28 de julho: as estações meteorológicas de Miranda do Douro e Carrazeda de Ansiães registaram uma onda de calor com a duração máxima de 6 dias.
- 15 a 21 de agosto: onda de calor registada em 6 estações meteorológicas do continente, sobretudo na região do Alentejo, com uma duração máxima de 7 dias em Évora e Cabril, e de 6 dias nas estações de Alcácer do Sal, Portalegre, Elvas e Castelo Branco.
Ondas de frio
No ano de 2024, não ocorreram ondas de frio em Portugal continental.
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Com base na análise efetuada, recomenda-se que seja avaliada a viabilidade de:
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- Dados respeitantes a: Portugal continental.
- Periodicidade de atualização: anual.
Última atualização:
Quarta, 24 Setembro, 2025
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