Ondas de calor e de frio

  • Em 2023 verificaram-se sete ondas de calor em Portugal continental: três na primavera, três no verão e uma no outono, mais uma do que no ano anterior.
  • Por outro lado, o número total de dias em onda de calor, no continente e no verão, considerando o somatório dos dias em onda de calor registados em todas as estações meteorológicas, foi, em 2023, 371 dias, muito inferior ao registado em 2022 (918 dias).
Descrição: 

O aumento da temperatura média global à superfície observado durante os últimos 50 anos, tem vindo a constituir uma das principais motivações dos estudos sobre alterações climáticas.

De acordo com a Organização Meteorológica Mundial, desde que se iniciaram os registos à escala planetária o ano de 2023 destaca-se como o ano mais quente, sendo 2016 e 2020, respetivamente, os segundo e terceiro mais quentes, no que se refere à temperatura média global à superfície.

Em Portugal continental, a análise dos dados observados indica que, à semelhança do resto do Planeta, o clima português sofreu, ao longo do século XX, uma evolução caracterizada por dois períodos de relativo aquecimento, intercalados por um período de relativo arrefecimento. No entanto, desde a década de 70, a temperatura média anual subiu em todas as regiões de Portugal a uma taxa de cerca de 0,3˚C/década. Do ponto de vista dos extremos de temperatura, verifica-se uma tendência para a ocorrência de mais ondas de calor e com maior duração, mais noites e dias muito quentes (temperatura mínima superior ao percentil 90 e temperatura máxima superior a 35˚C, respetivamente) e menos dias e noites frias (temperatura máxima e temperatura mínima inferiores ao percentil 10, respetivamente).

A ocorrência de ondas de calor e frio tem impactes significativos em várias atividades socioeconómicas, tais como na saúde, agricultura, incêndios rurais, produção e consumo de energia[1].

As ondas de calor podem ocorrer em qualquer altura do ano, no entanto são mais notórias e sentidas pelos seus impactes, quando ocorrem nos meses de verão (junho, julho e agosto). Por outro lado, a ocorrência de onda de frio é um fenómeno que, podendo verificar-se em qualquer época do ano, é mais notório e por vezes com impactes adversos (por exemplo, na saúde) nos meses de inverno.

Apesar de relativamente comuns no clima português de tipo mediterrânico, sobretudo no verão, quando associadas a circulações anticiclónicas de sul e de este, as mais intensas e com maior duração, podem ser responsáveis por uma mortalidade acentuada nos grupos de risco mais elevado. Também uma onda de calor com temperaturas máximas ou gradientes de temperatura superiores aos previstos no dimensionamento das construções pode causar situações de insegurança, por deficiente comportamento dos materiais, dos elementos estruturais ou dos seus apoios.

Utiliza-se a definição de índice de duração de onda de calor (HWDI – Heat Wave Duration Index) definido[2] pela Organização Meteorológica Mundial, onde se considera que ocorre uma onda de calor quando, num intervalo de pelo menos seis dias consecutivos, as temperaturas máximas são 5˚C superiores à média das temperaturas máximas no período de referência (1961-1990). Os valores médios diários de referência são calculados como médias deslizantes numa janela de cinco dias. A onda de calor é reportada ao mês onde ocorre o primeiro dia da onda de calor.

Utiliza-se uma definição equivalente para o índice de duração de onda de frio (CWDI - Cold Wave Duration Index), onde se considera que ocorre uma onda de frio quando num intervalo de pelo menos seis dias consecutivos as temperaturas mínimas são inferiores em 5˚C à média das temperaturas mínimas no mesmo período de referência.

 

Conceitos

«Onda de calor», ocorrência de, pelo menos, seis dias com valores da temperatura do ar muito altas, isto é, com temperaturas de 5˚C ou mais, acima dos valores médios de referência.

«Ondas de frio», sequência de, pelo menos, seis dias com valores da temperatura do ar muito baixas, isto é, com temperaturas 5˚C ou mais abaixo dos valores médios de referência.

 

 

Contribuição para os ODS

 

[1] SIAM (2002), Climate Change in Portugal: Scenarios, Impacts and Adaptation Measures. F.D. Santos, K. Forbes e R. Moita (Eds), Gradiva, Lisboa, 454pp.

[2] Peterson et al., 2001: Report on the Activities of the Working Group on Climate Change Detection and Related Rapporteurs 1998-2001. Word Meteorological Organization, WCDMP-No. 47/WMO-TD No.1071, Geneva, Switzerland.

 

Objetivos: 
  • Avaliar a ocorrência de períodos de ondas de calor e de frio, sua duração e intensidade em Portugal continental.
Análise da evolução:

Desde a década de 1940, período em que existe informação meteorológica diária num maior número de estações, têm-se verificado ondas de calor, de extensão espácio-temporal variável.

Nos últimos 30 anos têm-se observado, em Portugal continental, mais eventos de ondas de calor extremos no período do verão. Esta situação tem sido notória em todo o território, no entanto, são as regiões do interior Norte e Centro (distritos de Bragança, Vila Real, Viseu e Guarda) e o Alentejo (distritos de Setúbal, Évora e Beja) as mais afetadas.

Os episódios mais severos de ondas de calor (maior número de ondas de calor, maior número de dias em onda de calor) verificaram-se depois de 1990 na região interior Norte e Centro e depois de 2000 na região Sul. Os verões com maior percentagem de estações meteorológicas em onda de calor no verão desde 2000 foram: 2013 (89 %), 2006 (85 %), 2003 (76 %), 2018 e 2022 (74 %).

O maior número total de dias em onda de calor, 918 dias, ocorreu no verão de 2022, com a contribuição significativa da região Nordeste. Nesta região, em algumas estações verificaram-se quatro ondas de calor, a que correspondeu um total de dias superior a 40 em onda de calor (Bragança, Mirandela e Carrazeda de Ansiães, com 44, 42 e 41 dias, respetivamente).

Destacam-se, ainda, os anos de 2003 e 2006 com mais dias em onda de calor (687 e 667 dias respetivamente).

Analisando o ano de 2023, verificaram-se as seguintes ondas de calor e de frio:

 

Ondas de calor

Na primavera, no mês de abril, ocorreram três ondas de calor que afetaram as regiões do interior Norte e Centro, Vale do Tejo, Alentejo e sotavento Algarvio. Foi o quarto mês mais quente desde 1931, tendo sido ultrapassados os anteriores maiores valores registados da temperatura máxima do ar em cerca de 60% das estações meteorológicas da rede IPMA.

Durante o mês de abril verificaram-se os seguintes períodos em onda de calor:

  • 2 a 11 de abril: 75% das estações estiveram em onda de calor, abrangendo as regiões do interior Norte e Centro, Vale do Tejo e Alentejo;
  • 15 a 21 de abril: 45% das estações estiveram em onda de calor, abrangendo essencialmente as regiões do interior;
  • 23 de abril a 09 maio: 50% das estações em onda de calor, abrangendo as regiões do interior Norte e Centro, Vale do Tejo, Alentejo e sotavento Algarvio.
Última atualização: 
Terça, 6 Agosto, 2024