Suscetibilidade à desertificação

  • Nas últimas décadas tem vindo a verificar-se o agravamento da aridez e, consequentemente. a maior escassez de recursos hídricos, maior degradação das terras, redução da densidade do coberto vegetal, diminuição da resiliência dos ecossistemas, o que contribui para o aumento da suscetibilidade à desertificação.
  • Nos últimos três períodos para séries climáticas de 30 anos (1960-1990; 1970-2000; 1980-2010), a suscetibilidade à desertificação cresceu 22%.
  • No período 1980-2010, 58% do território de Portugal continental estava suscetível à desertificação, enquanto, na série de 1960-1990, 36% do território era afetado, destacando-se nas duas séries temporais as áreas do Sul, Interior Centro e Interior Norte do país.
Descrição: 

A ficha temática “Suscetibilidade à desertificação” apresenta a evolução da suscetibilidade à desertificação no território de Portugal continental.

O clima e o homem estão entre as principais causas do fenómeno de desertificação que conduz a uma elevada degradação dos recursos naturais, em particular do solo, traduzindo-se na diminuição da sua capacidade produtiva, na perda de biodiversidade e escassez de recursos hídricos conduzindo ao abandono dos campos e a migrações.

A suscetibilidade à desertificação, de acordo com o Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação (PANCD), aprovado pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 78/2014, de 24 de dezembro, corresponde às áreas delimitadas pela espacialização do índice de aridez, que expressa a razão entre a precipitação e a evapotranspiração potencial. Assim, a aridez é um dos fatores que favorece a expansão da desertificação e, consequentemente, uma das principais causas da suscetibilidade do território à desertificação.

De acordo com o PANCD, a suscetibilidade à desertificação no contexto português corresponde às «zonas ameaçadas por desertificação», em contraponto às «zonas afetadas por desertificação», sendo as mesmas delimitadas pela espacialização do índice de aridez. As áreas suscetíveis à desertificação correspondem ao agrupamento das classes semiárido e sub-húmido seco (aridez <0,05 e >0,65), e as áreas não suscetíveis à desertificação, ao agrupamento das classes sub-húmido húmido e húmidos do índice de aridez (>0,05).

As áreas de maior suscetibilidade à desertificação com consequências diretas na perda de biodiversidade, na fertilidade do solo, na produtividade das terras e na perda de produtividade económica, conduzem inequivocamente às migrações.

Para fazer face a este fenómeno crescente, exacerbado pelas alterações climáticas, é fundamental atuar ao nível da melhoria das funções do solo. O solo desempenha funções essenciais ao funcionamento dos ecossistemas, como no armazenamento da água e no sequestro de carbono. Boas práticas de gestão do solo e da água e uma cobertura vegetal adequada que proteja o solo dos agentes erosivos encontram-se entre as principais medidas a ter em conta no combate à desertificação.

 

Conceitos

«Aridez» expressa a extrema falta de água, quer proveniente da precipitação, quer em circulação no solo, produzindo efeitos negativos no crescimento da vegetação. Este fenómeno é mais frequente nas designadas «zonas áridas, semiáridas e sub-húmidas secas», nas quais a razão entre os valores anuais da precipitação e da evapotranspiração potencial está compreendida entre 0,05 e 0,65.

«Combate à desertificação», o conjunto das atividades que fazem parte do aproveitamento integrado da terra, nas zonas áridas, semiáridas e sub-húmidas secas, com vista ao seu desenvolvimento sustentável, com o objetivo da prevenção e ou redução da degradação das terras, da reabilitação de terras parcialmente degradadas e da recuperação de terras degradadas.

«Degradação das terras», a redução ou perda, nas zonas áridas, semiáridas e sub-húmidas secas, da produtividade biológica ou económica e da complexidade das terras agrícolas de sequeiro ou de regadio, das pastagens naturais ou semeadas, das florestas ou áreas com arvoredo disperso, devido aos sistemas de utilização da terra ou a um processo ou combinação de processos, incluindo os que resultam da atividade humana e das suas formas de ocupação do território, tais como: a erosão do solo causada pelo vento ou pela água; a deterioração das propriedades físicas, químicas e biológicas ou económicas do solo e a destruição da vegetação por períodos prolongados.

«Desertificação», a degradação da terra nas zonas áridas, semiáridas e sub-húmidas secas, resultantes de vários fatores, incluindo as variações climáticas e as atividades humanas (vide PANCD).

«Neutralidade da degradação das terras», estado a partir do qual a quantidade e a qualidade do recurso solo necessário para suportar os ecossistemas, os seus serviços e funções e assegurar a segurança alimentar se encontra estável ou aumenta. A sua monitorização baseia-se no balanço entre as áreas com alterações positivas nos indicadores que compõem a neutralidade da degradação das terras [Land Degradation Neutrality (LDN)] (ganhos) e as áreas com alterações negativas nos indicadores de LDN (perdas), em cada um dos tipos de ocupação do solo.

«Terras», o sistema bioprodutivo terrestre que compreende o solo, a vegetação, outros componentes da biota e os processos ecológicos e hidrológicos que se desenvolvem dentro do sistema.

«Zonas afetadas pela desertificação», o conjunto das zonas áridas, semiáridas e sub-húmidas secas cujas terras são afetadas ou ameaçadas de desertificação.

«Zonas áridas, semiáridas e sub-húmidas secas», aquelas que, com exceção das zonas polares e das subpolares, correspondem às áreas da superfície da Terra nas quais a razão entre os valores anuais da precipitação e da evapotranspiração potencial está compreendida entre 0,05 e 0,65.

 

 

Contribuição para os ODS 



 

 

Objetivos: 

O PANCD constitui uma obrigação dos Estados decorrente da adesão à Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (CNUCD) nos países afetados pela desertificação, particularmente em África, com vista à proteção e reabilitação de ecossistemas degradados e melhoria das funções do solo, como medidas de combate à desertificação e às alterações climáticas.

O PANCD procede à aplicação das orientações, das medidas e dos instrumentos da CNUCD nas áreas áridas, semiáridas e sub-húmidas secas do território nacional, bem como das iniciativas de cooperação multilateral e bilateral do país, que se inscrevam no seu âmbito. A sua visão estratégica expressa-se como “a criação de uma parceria nacional para prevenir e reverter a desertificação/degradação das terras e para mitigar os efeitos da seca nas áreas afetadas no território nacional, parceria que deverá também ser estendida às regiões e países com quem temos relações privilegiadas e condições comuns, a fim de apoiar a redução da pobreza e a sustentabilidade ambiental”.

Os seus objetivos estratégicos são os seguintes:

  • Promover a melhoria das condições de vida das populações das áreas suscetíveis;
  • Promover a gestão sustentável dos ecossistemas das áreas suscetíveis e a recuperação das áreas afetadas;
  • Gerar benefícios globais e potenciar sinergias com os processos das alterações climáticas e da biodiversidade nas áreas suscetíveis;
  • Promover e mobilizar recursos para aplicar a CNUCD e o PANCD.

O PANCD atualmente em vigor (2014) tem um período de vigência de 10 anos, pelo que deverá ser revisto até ao final de 2024. Prevê-se uma revisão significativa com vista à sua adaptação à evolução das realidades e circunstâncias nacionais, de forma a que o PANCD revisto se afirme como o garante da continuidade do Programa após 2024, integrando o novo quadro estratégico da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação para o horizonte 2018-2030, assegurando a coerência entre ambos e reforçando as sinergias no âmbito do quadro jurídico nacional e comunitário.

Com o futuro PANCD, Portugal passará a dispor de um instrumento de monitorização permanente e atualizado, fruto da definição de metodologias de cálculo consistentes, baseadas num conjunto de indicadores objetivos e mensuráveis, que permitam analisar continuamente a dimensão e os riscos da desertificação e degradação dos solos em Portugal.

Análise da evolução:

Portugal encontra-se entre os países europeus com maior vulnerabilidade ao fenómeno da desertificação, sobretudo as zonas semiáridas do sudeste e nordeste do país, embora esta ameaça tenha vindo a expandir-se, nas últimas décadas, em consequência do aumento da aridez, causada pelas alterações climáticas.

Última atualização: 
Quarta, 7 Agosto, 2024