A RADNET, que permite a medição em contínuo da radiação gama no ar, em aerossóis e na água dos principais rios internacionais (Tejo, Douro e Guadiana), tem uma distribuição esparsa de estações, com uma disposição geográfica que toma como princípio garantir uma boa cobertura da zona da fronteira com Espanha, dos grandes centros populacionais de Portugal continental e das Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores, bem como de áreas relevantes para o trânsito de mercadorias radioativas. Conta atualmente com 31 estações para medição da radiação no ambiente.
Controlo radiológico do ambiente
- Entre 2010 e 2022 os valores de débito de dose de radiação gama anuais apresentam algumas oscilações e valores expectáveis para o fundo radioativo natural dos locais de medida.
- A Rede de Alerta de Radioatividade no Ambiente foi expandida em 2023 com a instalação de novas estações de monitorização da radioatividade no ambiente.
A ficha temática “Controlo radiológico do ambiente” monitoriza os débitos de dose de radiação no ambiente e as concentrações de radionuclídeos artificiais e naturais em compartimentos ambientais (atmosférico, aquático e terrestre), considerando as vias diretas e indiretas de exposição e contaminação do Homem, de modo a assegurar o acompanhamento da exposição efetiva da população portuguesa à radioatividade.
A radioatividade não é um fenómeno recente nem resulta exclusivamente da ação antropogénica. Com efeito, a Terra sempre esteve sujeita à radiação cósmica e à proveniente de alguns radionuclídeos que sempre fizeram parte da sua constituição. Atualmente, e após a descoberta da radioatividade, com a consequente utilização em várias áreas de atividade, os radionuclídeos presentes no ambiente poderão ter origem natural ou antropogénica. Resultam, fundamentalmente, de quatro fontes principais:
- Exalação para a atmosfera de rádon (Rn), na forma dos radionuclídeos 222Rn e 220Rn, formados através da desintegração radioativa dos radionuclídeos de rádio (Ra), 226Ra e do 224Ra (constituintes naturais de solos e rochas) pertencentes às séries radioativas naturais do urânio e do tório, respetivamente. Um bom exemplo é a ocorrência do chumbo, 210Pb, descendente com um longo período de semi-vida do 222Rn;
- Formação de radionuclídeos cosmogénicos, como por exemplo o berílio, 7Be, através da interação da radiação cósmica com gases atmosféricos como o carbono, o azoto e o oxigénio;
- Radioatividade natural tecnologicamente aumentada, resultante da utilização industrial de matérias-primas que contêm radionuclídeos naturais;
- Radionuclídeos artificiais, produtos de cisão e de ativação, em virtude de atividades antropogénicas (testes nucleares, produção de energia elétrica por via nuclear, produção de radioisótopos, acidentes radiológicos e nucleares, entre outras).
Independentemente da sua origem, os radionuclídeos podem ocorrer na atmosfera na forma gasosa ou particulada (associados ao aerossol atmosférico). Em geral, a forma particulada é a que representa maior risco radiológico, uma vez que essas partículas interagem com a biosfera, através de processos de transporte e deposição atmosférica.
A exposição do Homem à radioatividade pode afetar a sua saúde provocando, nomeadamente, alterações genéticas e o aparecimento de diversos tipos de neoplasias (leucemia, cancros do pulmão, pele e estômago, entre outros). A exposição pode ser direta (nomeadamente por exposição do ser humano à fonte de radiação) ou por via indireta devido à introdução acidental daquelas substâncias no ambiente (ar, água, solo, alimentos e biota).
Em Portugal, a vigilância radiológica do ambiente é realizada através de programas de monitorização elaborados para avaliar a presença de radionuclídeos artificiais e naturais nos compartimentos ambientais (atmosférico, aquático e terrestre) que constituem vias diretas de contaminação para o Homem.
A radioatividade em águas superficiais pode ser devida aos radionuclídeos dissolvidos na fase aquosa e/ou aos radionuclídeos adsorvidos nas partículas em suspensão, podendo eventualmente ser incorporada nos sedimentos e nos organismos vivos. Além dos radionuclídeos de origem natural, tais como, urânio, tório, rádio, radão e descendentes, podem ainda ser detetados o trítio (3H), o césio (137Cs) e estrôncio (90Sr) (normalmente de origem antropogénica). Estes radionuclídeos são produtos de cisão resultantes do funcionamento de centrais nucleares. Enquanto o radionuclídeo 3H pode ser libertado para o ambiente tanto em condições normais como na eventualidade de um acidente nuclear, os radionuclídeos 137Cs e 90Sr só estão presentes no ambiente devido a acidentes ou testes nucleares.
Desde 1989, Portugal mantém operacional uma Rede de Alerta de Radioatividade no Ambiente (RADNET) em funcionamento contínuo, apta para detetar situações de aumento anormal de radioatividade no ambiente. Nos últimos anos foram substituídas as estações mais antigas da RADNET por versões mais recentes, com capacidade de, para além da medição dos débitos de dose de radiação gama [na grandeza de H*(10)], identificar também os radionuclídeos presentes no ambiente, permitindo discernir melhor a potencial origem de qualquer aumento não expectável da radioatividade e melhorando a sensibilidade da rede.
Em caso de necessidade, esta rede pode ser complementada com uma estação instalada num veículo e cinco estações portáteis, que podem ser instaladas temporariamente em qualquer local do território, todas com capacidade para medição dos débitos de dose de radiação gama [na grandeza de H*(10)] e uma delas também com capacidade espectroscópica.
A rede conta também com 5 estações para a monitorização contínua de radionuclídeos em aerossóis e iodo radioativos instaladas em Vila Real, Abrantes, Évora, Faro e Algés, garantindo a expansão e diversificação desta rede.
A rede mede em contínuo a radiação gama no ambiente e na água, acionando alarmes automáticos, sonoros e visuais, quando os níveis de radiação medidos são superiores a limiares predefinidos.
Para além da RADNET, também se procede à monitorização radiológica do ambiente através de amostras de aerossóis, de águas de superfície, de componentes da cadeia alimentar e de refeições completas.
O novo Programa de monitorização ambiental da radioatividade (PRAD), aprovado pela Portaria n.º 254/2023, de 4 de agosto, tem como objetivo controlar os níveis de radioatividade no ambiente, de modo a avaliar a exposição à radiação ionizante de toda a população, dando cumprimento ao disposto nos artigos 35.º e 36.º do Tratado EURATOM, alterado pelos Regulamentos (UE, EURATOM) 2016/1192 e à Recomendação (COM/473/EURATOM).
Conceitos «Radionuclídeo», forma instável de um nuclídeo que liberta energia sob a forma de radiação ionizante para atingir a estabilidade. |
Contribuição para os ODS
- Garantir que a RADNET se encontra operacional, possibilitando uma notificação imediata em caso de deteção de valores anómalos e uma resposta rápida e coordenada a nível nacional;
- Garantir a monitorização de rotina da radioatividade no ambiente e a identificação de desvio nos valores com significado radiológico.
Localização das estações da RADNET, em 2023
Evolução dos valores médios anuais da taxa de dose de radiação gama no ambiente em Portugal
Relativamente aos valores médios anuais de débito de dose de radiação gama no ambiente, os dados recolhidos entre 2010 e 2022, correspondem a valores do fundo radioativo natural do local onde ocorreu a medição. Este fundo radioativo natural varia em função da geologia local e da altitude, justificando os valores médios anuais diferentes entre as várias estações.
Pode ainda observar-se que as médias anuais para cada estação se têm mantido constantes ao longo dos anos apresentados, permitindo concluir que não houve alteração significativa dos níveis de radiação gama no ambiente e que a situação se manteve normal do ponto de vista radiológico.
É, ainda, possível verificar a redução dos valores médios anuais a partir do ano de 2020 para algumas estações, em resultado da alteração dos equipamentos para sistemas de maior sensibilidade, tendo como objetivo aumentar a capacidade de deteção de pequenas variações dos níveis de radiação gama no ambiente.
A RADNET tem operado continuamente desde a sua implementação, com uma disponibilidade média de 98% no ano de 2022, sem terem sido observados alarmes relacionados com aumentos anómalos nos níveis de radiação gama no ambiente.
Relativamente à monitorização de radionuclídeos em aerossóis e de iodo radioativo, no ano de 2022 não foram detetadas concentrações acima dos limites de deteção das estações. As variações nas concentrações de radionuclídeos naturais encontraram-se dentro do expectável atendendo às variações normais do fundo radioativo natural ao longo do ano.
O controlo da atividade existente na atmosfera tem sido realizado por amostragem contínua de aerossóis, no Campus Tecnológico e Nuclear do Instituto Superior Técnico, da Universidade de Lisboa, onde está instalado o Reator Português de Investigação (RPI), que se encontra atualmente inativo e a aguardar o processo de desmantelamento.
Evolução da concentração de atividade em Be-7 e Pb-210 e da concentração de partículas em suspensão em aerossóis recolhidos no Campus Tecnológico e Nuclear
De acordo com as medições de 2022, a concentração média mensal de partículas totais em suspensão (PTS) variou entre 36 μg/m3 (no mês de dezembro) e 71 μg/m3 (no mês de julho).
A concentração de atividade média mensal em 7Be variou entre 3,97±0,40 mBq/m3 e 9,38±0,95 mBq/m3, apresentando um valor médio anual de 5,67±0,57 mBq/m3.
No caso do 210Pb, a concentração da sua atividade média mensal variou entre 0,333±0,087 mBq/m3 e 0,873±0,123 mBq/m3, com um valor médio anual de 0,63±0,11 mBq/m3.
A variação da concentração média mensal e anual para os radionuclídeos detetados em aerossóis e para as partículas totais em suspensão (PTS) nos últimos anos encontra-se dentro do expectável.
Os dados obtidos ao longo dos anos não apresentam valores anómalos, demonstrando que o RPI não tem contribuído para qualquer agravamento da qualidade do ar no local de monitorização, não existindo risco aumentado nem para a população nem para o ambiente.
Evolução dos valores de concentração de atividade em Cs-137 e Sr-90 em águas de superfície recolhidas no rio Tejo (Vila Velha de Ródão)
A vigilância de radioatividade devida a radionuclídeos com origem antropogénica, 137Cs, 90Sr e 3H, em águas superficiais tem sido assegurada nos rios Tejo, Zêzere, Douro, Mondego e Guadiana.
No rio Tejo, a amostragem da água superficial é efetuada mensalmente em Vila Velha de Ródão, sendo também recolhidas e analisadas amostras de sedimentos, peixes e plantas aquáticas.
As atividades de 137Cs e 90Sr em águas de superfície, em Vila Velha de Ródão, têm-se mantido relativamente constantes, sem grandes variações de ano para ano.
Evolução dos valores de concentração de atividade em 3H em águas de superfície recolhidas no rio Tejo (Vila Velha de Ródão)
Relativamente à atividade de 3H, também em Vila Velha de Ródão, esta tem vindo a variar ao longo dos meses e dos anos. Em 2022, a variação ao longo do ano foi bastante acentuada, tendo-se atingido o valor mais elevado nos meses de agosto e outubro. A variação observada ao longo dos anos pode estar relacionada com o funcionamento da Central Nuclear de Almaraz, localizada em Espanha, cujos efluentes são descarregados no rio Tejo e, com o sistema de descargas das barragens hídricas ao longo do rio. Referir que, a análise do gráfico evidencia atividades abaixo dos valores limite de exposição para a população e para o ambiente.
Paralelamente, a avaliação do nível de radioatividade na dieta mista fornece uma indicação da potencial contaminação radioativa do ser humano através da cadeia alimentar. Essa avaliação é efetuada através da análise de alimentos individualizados ou da refeição completa, sendo a refeição completa mais representativa da dieta mista.
De acordo com os dados do Programa de Monitorização Radiológica Ambiental, os resultados do programa de controlo radiológico dos alimentos considerados como principais constituintes da dieta portuguesa (dieta mista) demonstram um nível de radioatividade artificial bastante baixo.
Do conjunto de resultados obtidos, entre 2010 e 2022, para os diferentes tipos de amostras, conclui-se que as concentrações de atividade dos radionuclídeos de origem natural, designadamente das famílias do urânio e do tório e o potássio-40 (40K), são valores típicos do fundo radioativo natural, isto é, não alterados pela ação humana. As concentrações de atividade dos radionuclídeos de origem artificial, designadamente 137Cs, 90Sr e 3H, são muito reduzidas e frequentemente abaixo dos valores da atividade mínima detetável.
Dos resultados da monitorização radiológica do ambiente a nível nacional, obtidos para os diferentes tipos de amostras (aerossóis, água da chuva, águas de superfície, águas para consumo humano, produtos alimentares, leite, sedimentos, solos, entre outros), entre 2010 e 2022, conclui-se que são baixos e que se situam dentro do intervalo de valores obtidos em anos anteriores.
- Dados respeitantes a: Portugal continental, Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira.
- Periodicidade de atualização: anual.
Agência Portuguesa do Ambiente – Proteção radiológica
Rede de Alerta de Radioatividade no Ambiente (RADNET)
European Commission – EUropean Radiological Data Exchange Platform (EURDEP)
Instituto Superior Técnico - Laboratório de Proteção e Segurança Radiológica