A RADNET tem uma distribuição esparsa de estações, com uma disposição geográfica que toma como princípio garantir uma boa cobertura da zona da fronteira com Espanha e dos grandes centros populacionais de Portugal continental e das Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores.
Controlo radiológico do ambiente
A ficha temática “Controlo radiológico do ambiente” monitoriza as taxas de dose de radiação ambiente e as concentrações de radionuclidos artificiais e naturais em compartimentos ambientais (atmosférico, aquático e terrestre) considerando as vias diretas e indiretas de exposição e contaminação do Homem, de modo a assegurar o acompanhamento da exposição efetiva à radioatividade da população portuguesa.
A radioatividade não é um fenómeno recente nem exclusivamente resultante da ação antropogénica. Com efeito, a Terra sempre esteve sujeita à radiação cósmica e da sua constituição sempre fizeram parte alguns radionuclidos (forma instável de um nuclido que liberta energia na forma de radiação ionizante para atingir a estabilidade). Atualmente, e após a descoberta da radioatividade com consequente utilização em várias áreas de atividade, os radionuclidos presentes no ambiente poderão ter origem natural ou antropogénica. Resultam, basicamente, de quatro fontes principais:
- Exalação para a atmosfera de radão (Rn), na forma dos radionuclidos 222Rn e 220Rn, formados através da desintegração radioativa dos radionuclidos de rádio (Ra), 226Ra e do 224Ra (constituintes naturais de solos e rochas) pertencentes às séries radioativas naturais do urânio e do tório, respetivamente, sendo um bom exemplo a ocorrência do chumbo (Pb), 210Pb, descendente de longo período de semidesintegração do 222Rn;
- Formação de radionuclidos cosmogénicos através da interação da radiação cósmica com gases atmosféricos como o carbono, o azoto e o oxigénio, como por exemplo o berílio (Be), 7Be;
- Radioatividade natural tecnologicamente aumentada, resultante da utilização industrial de matérias primas que contêm radionuclidos naturais;
- Radionuclidos artificiais, produtos de cisão e ativação, em virtude de atividades antropogénicas (testes nucleares, produção de energia elétrica por via nuclear, produção de radioisótopos, acidentes, etc.).
Independentemente da sua origem, os radionuclidos podem ocorrer na atmosfera na forma gasosa ou particulada (associados ao aerossol atmosférico). Em geral, a forma particulada é a que representa maior risco radiológico, uma vez que essas partículas interagem com a biosfera, através dos processos de transporte e deposição atmosférica.
A vigilância radiológica do ambiente em Portugal, definida de acordo com as especificidades do País, é da competência da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e é realizada através de programas de monitorização, que consistem na determinação da presença de radionuclidos artificiais e naturais em compartimentos ambientais (atmosférico, aquático e terrestre) constituindo vias diretas de contaminação para o Homem.
A exposição do homem à radioatividade pode afetar a sua saúde nomeadamente através de alterações genéticas e aparecimento de diversos tipos de neoplasias (leucemia, cancros do pulmão, pele e estômago, entre outros). A exposição pode ser direta (nomeadamente por exposição do ser humano à fonte de radiação) ou por via indireta através do meio ambiente (ar, água, solo, alimentos) devido à introdução acidental daquelas substâncias no meio ambiente.
Portugal mantém operacional uma Rede de Vigilância em Contínuo da Radioatividade do Ambiente (RADNET) capaz de detetar situações de aumento anormal de radioatividade no ambiente. A RADNET conta atualmente com 14 estações fixas para medição da taxa de dose de radiação gama no ar, duas estações fixas para medição da taxa de dose de radiação gama na água (nas Barragens do Fratel do Rio Tejo e do Pocinho do Rio Douro), uma estação móvel (auto portada), uma estação espectroscópica móvel para uso em viaturas terrestres, marítimas e aéreas, e duas estações portáteis. Está a decorrer um projeto de expansão no âmbito do qual foram adquiridas mais sete estações com capacidade de espetrometria gama, de última geração, que se encontram em fase de teste e instalação. A rede mede em contínuo a radiação gama no ambiente, acionando um alarme quando os níveis de radiação medidos são superiores a um limiar predefinido, que corresponde ao triplo do valor médio medido em situação normal. Nesses casos, o alarme recebido na unidade central acionará os sistemas automáticos, sonoros e visuais, instalados na APA, a quem compete a gestão da RADNET.
Para além da RADNET, procede-se à monitorização radiológica do ambiente através de amostras de aerossóis, de águas de superfície, de componentes da cadeia alimentar e de refeições completas. Esta monitorização é realizada pelo Instituto Superior Técnico (IST).
Esta ficha temática diz respeito a Portugal continental, Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores e será atualizada sempre que forem disponibilizados novos dados.
- Garantir que a RADNET se encontra operacional, possibilitando uma notificação imediata em caso de deteção de valores anómalos e proceder a uma resposta rápida e bem coordenada a nível nacional;
- Garantir a monitorização em rotina da radioatividade no ambiente, e a identificação de desvio nos valores com significado radiológico.
Localização das estações da RADNET 2019

Valores médios anuais da taxa de dose de radiação gama no ambiente em Portugal, entre 2010 e 2018
Relativamente aos valores médios anuais da taxa de dose de radiação gama no ambiente, os dados recolhidos entre 2000 e 2018, correspondem a valores do fundo radioativo natural do local onde ocorreu a medição. Este fundo radioativo natural varia em função da geologia local e da altitude, justificando os valores médios anuais consideravelmente diferentes entre as várias estações.
Pode ainda observar-se que as médias anuais para cada estação se têm mantido constantes ao longo dos anos apresentados, permitindo concluir que não houve alteração significativa dos níveis de radiação gama no ambiente, sendo que a situação se tem mantido normal do ponto de vista radiológico.
O controlo da atividade existente na atmosfera tem sido realizado por amostragem contínua de aerossóis, no campus de Sacavém do IST, onde está instalado o Reator Português de Investigação (RPI), que se encontra atualmente inativo, aguardando o início do processo de desmantelamento.
Evolução da concentração de atividade em Berílio-7 e Chumbo-210 (mBq m-3) e da concentração de partículas em suspensão (μg m-3) em aerossóis recolhidos no Campus Tecnológico e Nuclear da Bobadela de 2010 a 2017

De acordo com as medições de 2017, a concentração média mensal de partículas totais em suspensão (PTS) variou entre 15 μg m-3 no mês de fevereiro e 51 μg m-3 no mês de outubro.
A concentração de atividade média mensal em 7Be variou entre 1,06±0,10 mBq m-3 e 6,25±0,63 mBq m-3, apresentando um valor médio anual de 4,0±1,7 mBq m-3.
No caso do 210Pb, a concentração da sua atividade média mensal variou entre 0,120±0,013 mBq m-3 e 1,10±0,12 mBq m-3, com um valor médio anual de 0,48±0,34 mBq m-3.
A variação da concentração média mensal e anual para os radionuclidos detetados em aerossóis e para as partículas totais em suspensão (PTS) nos últimos anos encontra-se dentro do expectável.
Estes dados não apresentam valores anormais, nem risco para a população e para o ambiente, e indicam que o RPI não tem contribuído para qualquer agravamento da qualidade do ar no local de monitorização.
A radioatividade em águas superficiais pode ser devida aos radionuclidos dissolvidos na fase aquosa e/ou aos radionuclidos adsorvidos nas partículas em suspensão podendo eventualmente ser incorporada nos sedimentos e nos organismos vivos. Além dos radionuclidos de origem natural, tais como, 238U, 232Th, 226Ra, 228Ra, o 222Rn e descendentes, podem ainda ser detetados o 3H (normalmente de origem antropogénica) e os radionuclidos 137Cs e 90Sr (normalmente de origem antropogénica). Estes radionuclidos são produtos de cisão resultantes do funcionamento de centrais nucleares. O radionuclido 3H pode ser libertado para o ambiente em condições normais e/ou após um acidente nuclear, mas os radionuclidos 137Cs e 90Sr só estão presentes no ambiente devido a acidentes ou testes nucleares.
Valores de concentração de atividade em Césio-137 e Estrôncio-90 (Bq L-1) em águas de superfície colhidas no rio Tejo (Vila Velha de Ródão) durante os anos 2010 a 2017

A vigilância de radioatividade devida a radionuclidos com origem antropogénica, césio-137 (137Cs), estrôncio-90 (90Sr) e trítio (3H), em águas superficiais tem sido assegurada nos rios Tejo, Zêzere, Douro, Mondego e Guadiana também pelo LPSR.
No rio Tejo, a amostragem da água superficial é feita mensalmente em Vila Velha de Ródão, sendo também colhidas e analisadas amostras de sedimentos, peixes e plantas aquáticas.
As atividades em césio-137 (137Cs) e estrôncio-90 (90Sr) em águas de superfície, em Vila Velha de Ródão, mantêm-se relativamente constantes, sem grandes variações de ano para ano. De notar que, em algumas determinações de 137Cs e de 90Sr, os valores obtidos são inferiores aos limites de deteção da técnica utilizada, pelo que os valores apresentados não possuem incerteza.
Valores de concentração de atividade em Trítio (Bq L-1) em águas de superfície colhidas no rio Tejo (Vila Velha de Ródão) durante os anos 2010 a 2017

Relativamente à atividade em 3H, também em Vila Velha de Ródão, esta tem vindo a variar ao longo dos meses e dos anos. Em 2015, a variação ao longo do ano foi bastante acentuada, tendo-se atingido o valor mais elevado nos meses de setembro/outubro. Em 2017, os valores foram semelhantes a 2016 apresentando também menor variação comparativamente aos anos anteriores. Essa variação pode estar relacionada com o normal funcionamento das Centrais Nucleares Espanholas cujos efluentes são descarregados no rio Tejo e com o sistema de descargas das barragens hídricas ao longo do rio Tejo. A análise do gráfico indica atividades abaixo dos valores limite para a população e para o ambiente.
Paralelamente, a avaliação do nível de radioatividade na dieta mista fornece uma indicação da potencial contaminação radioativa do Homem através da cadeia alimentar. Essa avaliação é feita através da análise de alimentos individualizados ou da refeição completa, sendo a refeição completa mais representativa da dieta mista.
De acordo com os dados do Programa de Monitorização Radiológica Ambiental IST, os resultados do programa de controlo radiológico dos alimentos considerados como principais constituintes da dieta portuguesa (dieta mista) demonstram um nível de radioatividade artificial bastante baixo.
Do vasto conjunto de resultados obtidos, entre 2010 e 2017, para os diferentes tipos de amostras, conclui-se que os teores de radioatividade se situam dentro da gama dos valores obtidos em anos anteriores. As concentrações de atividade dos radionuclidos de origem natural, designadamente das famílias do urânio e do tório e o potássio-40 (40K), são valores típicos do fundo radioativo natural, isto é, não alterados pela ação humana. As concentrações de atividade dos radionuclidos de origem artificial, designadamente 137Cs, 90Sr e 3H, são muito baixas e, frequentemente, abaixo dos valores da atividade mínima detetável.
Dos resultados da monitorização radiológica do ambiente a nível nacional obtidos para os diferentes tipos de amostras (aerossóis, água da chuva, águas de superfície, águas para consumo humano, produtos alimentares, leite, sedimentos, solos, etc.), entre 2010 e 2017, conclui-se que são baixos e que se situam dentro da gama dos valores obtidos em anos anteriores.
Agência Portuguesa do Ambiente – www.apambiente.pt
Sistema Nacional de Informação de Ambiente (SINAmb): Indicadores de Monitorização – sniamb.apambiente.pt/Home/Default.htm
Rede de Alerta de Radioatividade no Ambiente - radnet.apambiente.pt/
Plataforma EURDEP - eurdep.jrc.ec.europa.eu/Basic/Pages/Public/Home/Default.aspx
Laboratório de Proteção e Segurança Radiológica - www.itn.pt/sec/psr/