A ficha temática “Disponibilidades hídricas anuais” analisa as disponibilidades hídricas em Portugal continental num determinado ano, compara com valores médios, permitindo avaliar se o ano foi húmido, médio ou seco.
O conhecimento das disponibilidades hídricas permite uma gestão mais sustentável dos recursos, atendendo a que a variabilidade climática que caracteriza Portugal gera frequentes situações de secas e cheias.
As reservas hídricas superficiais são determinadas pela análise comparativa do armazenamento de água disponível em 80 albufeiras, localizadas nas principais bacias hidrográficas do país. Nesta análise são excluídas as albufeiras de uso privado e com diminuta capacidade de regularização.
A avaliação das disponibilidades hídricas superficiais é realizada por albufeira e por bacia hidrográfica, semanalmente e mensalmente, ao longo do ano hidrológico, por comparação dos volumes de armazenamento observados com a média mensal, que integra os registos históricos desde 1990/1991. Deste modo, assegura-se a gestão rigorosa da água disponível para os diferentes usos.
As águas subterrâneas têm desempenhado um importante papel, ao suprirem as necessidades de água, devido à sua capacidade de regularização interanual. Cerca de 2/3 do país é ocupado por massas de água indiferenciadas (unidade hidrogeológica do Maciço Antigo), de fraca disponibilidade hídrica resultante da pequena capacidade de armazenamento da água no substrato rochoso, sendo formações com grande variabilidade hídrica anual, muito dependente da precipitação. Ou seja, após as primeiras chuvas começam a armazenar água, mas no fim do ano hidrológico, no período de estiagem, os níveis de água subterrânea são muito baixos. Correspondem a meios heterogéneos, sem continuidade espacial, e com importância apenas local.
Para análise das reservas hídricas subterrâneas, dá-se especial enfâse aos sistemas aquíferos, em virtude de serem meios homogéneos com significativa capacidade de armazenamento da água subterrânea e de regularização interanual, sendo onde se localizam as principais reservas hídricas subterrâneas com importância regional.
Contudo, face à utilização destes recursos, importa conhecer a evolução das disponibilidades hídricas em todas as massas de água, independentemente do meio hidrogeológico.
Ao longo de cada ano hidrológico, tendo por base a rede de monitorização piezométrica instalada, comparam-se os níveis registados com o valor médio mensal ou com o percentil 20 (indicador de fraca disponibilidade hídrica) da série histórica, permitindo aferir a evolução das disponibilidades hídricas em cada massa de água.
Para o efeito, analisa-se a evolução do nível de água ao longo do ano hidrológico, comparando o nível de água subterrânea mensal com os valores médios do nível de água subterrânea dos anos anteriores. Neste contexto, consideram-se como referência para análise, os níveis de águas subterrâneas nos meses de outubro e abril. O mês de outubro corresponde ao início do ano hidrológico, quando os níveis de água subterrânea se encontram mais baixos, uma vez que, na generalidade do país, ainda não ocorreram eventos pluviosos que permitam a infiltração da água e consequente recarga dos aquíferos. Por sua vez, o mês de abril respeita ao final do período pluvioso que, em termos de águas subterrâneas, corresponde ao final do período de águas altas (quando os níveis de água subterrânea são mais elevados), sendo diminuta a probabilidade de ocorrência de recarga significativa dos aquíferos a partir deste período.
Assim, as reservas hídricas, durante um ano hidrológico com precipitação média, têm uma evolução crescente no semestre húmido (outubro a março) e decrescente durante o semestre seco (abril a setembro). Acresce que a capacidade de regularização interanual permite minimizar o impacte das secas meteorológicas, podendo, contudo, a persistência de baixa precipitação em anos hidrológicos consecutivos conduzir a situações de escassez de água.