A intensidade energética em energia primária tem vindo a decrescer na UE-27, tendo Portugal registado valores superiores a partir de 2014. Em 2021, Portugal apresentou uma intensidade energética da economia em energia primária de 112,4 tep/M€’2010, próxima da média da UE-27 que foi de 112,1 tep/M€’2010.
Intensidade energética e carbónica da economia
A ficha temática “Intensidade energética e carbónica da economia” analisa a evolução do consumo de energia e das emissões de gases com efeito de estufa face ao crescimento económico, em Portugal e na União Europeia. Esta ficha afere também a emissão dos gases gerados pela produção e consumo de energia, relativamente ao seu consumo interno.
Descrição:
A intensidade energética de uma economia consiste na razão entre o consumo interno de energia e o seu Produto Interno Bruto (PIB). Historicamente, o crescimento económico implica um aumento do consumo de energia, elevando as pressões sobre o ambiente.
Este indicador permite reconhecer a desejada dissociação (decoupling) entre o consumo de energia e o crescimento económico. A dissociação relativa verifica-se quando o aumento do consumo de energia é mais lento do que o crescimento económico. Se o consumo de energia estabilizar ou diminuir, enquanto o PIB continua a crescer, temos a dissociação absoluta entre estas duas variáveis, associada à natural redução dos impactes negativos sobre o ambiente.
Existem evidências de que as emissões de gases com efeito de estufa (GEE) são responsáveis pelo aumento da temperatura, resultando em alterações climáticas de origem antropogénica. Tendo a União Europeia (UE) assumido o compromisso de reduzir as emissões de GEE, a intensidade carbónica da economia analisa a dissociação entre a emissão de GEE e o crescimento económico. Para alcançar esta dissociação contribuem essencialmente a eficiência no setor energético e a substituição de combustíveis de origem fóssil pelos provenientes de fontes renováveis.
A utilização de fontes de energia renovável contribui para uma diminuição dos GEE provenientes da produção e consumo de energia, face ao consumo interno de energia.
Esta ficha temática diz respeito a Portugal e é atualizada anualmente.
Objetivos:
- No âmbito do quadro de ação da UE relativo ao clima e à energia para 2030, foi definida, em outubro de 2014, a meta não vinculativa de redução do consumo de energia em pelo menos 27% em relação às projeções do consumo futuro de energia com base nos critérios atuais;
- Em 2016, a Comissão Europeia apresentou o Pacote Legislativo “Energia Limpa para todos os Europeus” com o objetivo de promover a transição energética na década 2021-2030, e aprovou, no Regulamento (UE) 2018/1999, metas que visam alcançar, em 2030,uma quota mínima de32% de energia renovável; 32,5% de eficiência energética; 40% de redução das emissões de GEE em toda a economia relativamente aos níveis de 1990; e 15% de interligações elétricas;
- Em sequência, Portugal elaborou o Plano Nacional Energia e Clima para o horizonte 2030 (PNEC 2030), o principal instrumento nacional de política energética e climática para a década 2021-2030. O PNEC 2030 estabelece as seguintes metas nacionais para 2030: reduzir entre 45% e 55% as emissões de GEE, por referência às emissões registadas no ano de 2005; incorporar 47% de energia de fontes renováveis no consumo final bruto de energia; atingir uma redução de 35% do consumo de energia primária com vista a uma melhor eficiência energética; atingir 15% de interligações de eletricidade;
- No seu Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050 (RNC2050), Portugal assumiu o compromisso de assegurar a neutralidade das suas emissões até ao final da primeira metade do século;
- Na sequência da adoção da Lei Europeia do Clima, através do Regulamento (UE) 2021/1119, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 30 de junho de 2021, a UE comprometeu-se igualmente a atingir a neutralidade climática até 2050, revendo também a meta de redução de emissões da União para 2030, para pelo menos 55%, em relação aos níveis de 1990;
- Por forma a dar resposta a este reforço da ambição para 2030, a Comissão Europeia apresentou em julho de 2021 o pacote “Fit for 55”, que levou à revisão de um conjunto de compromissos como sejam as metas de incorporação de energias renováveis e eficiência energética da União (e cujas negociações ainda decorriam em maio de 2023);
- Em 2021, também Portugal adotou a sua Lei de Bases do Clima, Lei n.º 98/2021, de 31 de dezembro, que entrou em vigor a 1 de fevereiro de 2022, e que confirma o compromisso para alcançar a neutralidade climática até 2050, determinando que o Governo estuda, até 2025, a antecipação da meta da neutralidade climática, tendo em vista o compromisso da neutralidade climática o mais tardar até 2045. Estabelece, ainda, metas nacionais de redução de emissões, em linha com as trajetórias anteriormente estabelecidas no RNC2050, visando uma redução das emissões de GEE em pelo menos 55% até 2030; 65% a 75% até 2040; 90% até 2050; bem como um sumidouro líquido de CO2 eq. do setor LULUCF de pelo menos 13 milhões toneladas, entre 2045 e 2050.
Análise da evolução:
De acordo com os dados provisórios disponibilizados pela Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG) constata-se que, em 2021, a intensidade energética da economia em energia primária situou-se em 106 tep/M€'2016 (menos 5% face a 2020) e a intensidade energética da economia em energia final foi de 82 tep/M€'2016 (igual a 2020). Já a intensidade energética da economia em eletricidade situou-se em 244 MWh/M€'2016 (menos 4% face a 2020).
Em termos de intensidade energética por setor de atividade, em 2021 o setor da Indústria registou uma intensidade energética de 121 tep/M€'2016 (menos 5% face a 2020), o setor da Agricultura e Pescas 124 tep/M€'2016 menos 5% face a 2020), o setor dos Transportes 26 tep/M€'2016 (menos 4% que em 2020), o setor Doméstico 24 tep/M€'2016 (menos 4% face a 2020), enquanto o setor dos Serviços registou uma intensidade energética de 16 tep/M€'2016 (menos 6% face a 2020).
Salienta-se que estes dados são calculados pela DGEG utilizando o PIB a preços de 2016, enquanto os dados Eurostat, abaixo representados graficamente, utilizam o PIB a preços de 2010, não sendo, por isso, comparáveis entre si.
Intensidade energética em energia primária, em Portugal e na UE-27
Notas: O indicador intensidade energética em energia primária foi calculado com base nos indicadores Eurostat “Total Energy Supply” e “GDP – Chain linked volumes (2010), million euro”. Dados de Portugal provisórios para 2021.
Fonte: Eurostat, 2023
Consumo interno bruto de energia, em Portugal e na UE-27
Fonte: Eurostat, 2023
Relativamente ao consumo interno bruto de energia, observou-se em Portugal e na UE-27 uma descida acentuada no consumo energético em 2020 em resultado da pandemia por COVID-19, seguindo-se um aumento em 2021, mais expressivo ao nível comunitário do que nacional.
Intensidade carbónica da economia, em Portugal
Notas: P - dados provisórios. Total CO2 equivalente sem LULUCF.
Fonte: APA, 2023
Uma análise das emissões de GEE por unidade de PIB permite verificar que, a partir de 2005, se iniciou um processo de “descarbonização” da economia portuguesa, ou seja, a economia nacional começou a emitir menos carbono por cada unidade de riqueza produzida. Esta tendência, que é anterior à crise económica que teve início em 2008, deve-se a vários fatores, nomeadamente a alterações do modelo energético nacional para formas de energia menos intensivas em carbono, como seja a utilização de gás natural; a gradual implementação de biocombustíveis nos transportes; o crescimento significativo da energia produzida a partir de fontes de energia renovável (principalmente eólica e hídrica); e a implementação de medidas de eficiência energética.
A partir de 2010 a redução da intensidade carbónica da economia estagnou, situação que está em parte relacionada com uma maior utilização de carvão pelas centrais térmicas até 2018, e em especial nos anos de maior escassez hídrica, e/ou como resultado dos baixos preços deste combustível. A utilização de carvão para produção termoelétrica foi reduzida fortemente após 2018 (menos 79% em 2020 face a 2018 e menos 55% face a 2019), tendo terminado definitivamente no final de 2021.
Portugal registou em 2021 uma intensidade carbónica de 0,29 kg CO2eq/€ PIB.
Intensidade da emissão de GEE relativa ao consumo de energia, em Portugal e na UE-27
Fonte: Agência Europeia do Ambiente e Eurostat, 2023
As alterações do modelo energético nacional para formas de energia menos intensivas em carbono tornam-se evidentes quando se analisa a evolução das emissões de GEE provenientes da produção e consumo de energia, face à energia interna consumida. Desde 2000, tanto Portugal como a UE-27 apresentam uma tendência decrescente, indicando que as emissões de GEE têm diminuído face à energia consumida.
No entanto, em Portugal o decréscimo da intensidade de emissões parece ter estagnado após 2010, apresentando inclusivamente subidas em 2012, 2015 e 2017, situação que está em parte relacionada com a maior utilização de carvão nas centrais térmicas, em resultado dos baixos preços deste combustível e das licenças de emissão de CO2. Nos anos em que se verificou muita precipitação, como 2010, 2013, 2014, 2016 e 2018, a energia produzida a partir de fontes de energia renovável (principalmente hídrica) foi maior, facto que ajuda a explicar o menor valor das emissões de GEE provenientes da produção e consumo de energia nesses anos.
Última atualização:
Quarta, 31 Maio, 2023