Controlo radiológico do ambiente

  • Entre 2010 e 2022 os valores de débito de dose de radiação gama anuais apresentam algumas oscilações e valores expectáveis para o fundo radioativo natural dos locais de medida.
  • A Rede de Alerta de Radioatividade no Ambiente foi expandida em 2023 com a instalação de novas estações de monitorização da radioatividade no ambiente.
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A ficha temática “Controlo radiológico do ambiente” monitoriza os débitos de dose de radiação no ambiente e as concentrações de radionuclídeos artificiais e naturais em compartimentos ambientais (atmosférico, aquático e terrestre), considerando as vias diretas e indiretas de exposição e contaminação do Homem, de modo a assegurar o acompanhamento da exposição efetiva da população portuguesa à radioatividade.

A radioatividade não é um fenómeno recente nem resulta exclusivamente da ação antropogénica. Com efeito, a Terra sempre esteve sujeita à radiação cósmica e à proveniente de alguns radionuclídeos que sempre fizeram parte da sua constituição. Atualmente, e após a descoberta da radioatividade, com a consequente utilização em várias áreas de atividade, os radionuclídeos presentes no ambiente poderão ter origem natural ou antropogénica. Resultam, fundamentalmente, de quatro fontes principais:

  • Exalação para a atmosfera de rádon (Rn), na forma dos radionuclídeos 222Rn e 220Rn, formados através da desintegração radioativa dos radionuclídeos de rádio (Ra), 226Ra e do 224Ra (constituintes naturais de solos e rochas) pertencentes às séries radioativas naturais do urânio e do tório, respetivamente. Um bom exemplo é a ocorrência do chumbo, 210Pb, descendente com um longo período de semi-vida do 222Rn;
  • Formação de radionuclídeos cosmogénicos, como por exemplo o berílio, 7Be, através da interação da radiação cósmica com gases atmosféricos como o carbono, o azoto e o oxigénio;
  • Radioatividade natural tecnologicamente aumentada, resultante da utilização industrial de matérias-primas que contêm radionuclídeos naturais;
  • Radionuclídeos artificiais, produtos de cisão e de ativação, em virtude de atividades antropogénicas (testes nucleares, produção de energia elétrica por via nuclear, produção de radioisótopos, acidentes radiológicos e nucleares, entre outras).

Independentemente da sua origem, os radionuclídeos podem ocorrer na atmosfera na forma gasosa ou particulada (associados ao aerossol atmosférico). Em geral, a forma particulada é a que representa maior risco radiológico, uma vez que essas partículas interagem com a biosfera, através de processos de transporte e deposição atmosférica.

A exposição do Homem à radioatividade pode afetar a sua saúde provocando, nomeadamente, alterações genéticas e o aparecimento de diversos tipos de neoplasias (leucemia, cancros do pulmão, pele e estômago, entre outros). A exposição pode ser direta (nomeadamente por exposição do ser humano à fonte de radiação) ou por via indireta devido à introdução acidental daquelas substâncias no ambiente (ar, água, solo, alimentos e biota).

Em Portugal, a vigilância radiológica do ambiente é realizada através de programas de monitorização elaborados para avaliar a presença de radionuclídeos artificiais e naturais nos compartimentos ambientais (atmosférico, aquático e terrestre) que constituem vias diretas de contaminação para o Homem.

A radioatividade em águas superficiais pode ser devida aos radionuclídeos dissolvidos na fase aquosa e/ou aos radionuclídeos adsorvidos nas partículas em suspensão, podendo eventualmente ser incorporada nos sedimentos e nos organismos vivos. Além dos radionuclídeos de origem natural, tais como, urânio, tório, rádio, radão e descendentes, podem ainda ser detetados o trítio (3H), o césio (137Cs) e estrôncio (90Sr) (normalmente de origem antropogénica). Estes radionuclídeos são produtos de cisão resultantes do funcionamento de centrais nucleares. Enquanto o radionuclídeo 3H pode ser libertado para o ambiente tanto em condições normais como na eventualidade de um acidente nuclear, os radionuclídeos 137Cs e 90Sr só estão presentes no ambiente devido a acidentes ou testes nucleares.

Desde 1989, Portugal mantém operacional uma Rede de Alerta de Radioatividade no Ambiente (RADNET) em funcionamento contínuo, apta para detetar situações de aumento anormal de radioatividade no ambiente. Nos últimos anos foram substituídas as estações mais antigas da RADNET por versões mais recentes, com capacidade de, para além da medição dos débitos de dose de radiação gama [na grandeza de H*(10)], identificar também os radionuclídeos presentes no ambiente, permitindo discernir melhor a potencial origem de qualquer aumento não expectável da radioatividade e melhorando a sensibilidade da rede.

Em caso de necessidade, esta rede pode ser complementada com uma estação instalada num veículo e cinco estações portáteis, que podem ser instaladas temporariamente em qualquer local do território, todas com capacidade para medição dos débitos de dose de radiação gama [na grandeza de H*(10)] e uma delas também com capacidade espectroscópica.

A rede conta também com 5 estações para a monitorização contínua de radionuclídeos em aerossóis e iodo radioativos instaladas em Vila Real, Abrantes, Évora, Faro e Algés, garantindo a expansão e diversificação desta rede.

A rede mede em contínuo a radiação gama no ambiente e na água, acionando alarmes automáticos, sonoros e visuais, quando os níveis de radiação medidos são superiores a limiares predefinidos.

Para além da RADNET, também se procede à monitorização radiológica do ambiente através de amostras de aerossóis, de águas de superfície, de componentes da cadeia alimentar e de refeições completas.

O novo Programa de monitorização ambiental da radioatividade (PRAD), aprovado pela Portaria n.º 254/2023, de 4 de agosto, tem como objetivo controlar os níveis de radioatividade no ambiente, de modo a avaliar a exposição à radiação ionizante de toda a população, dando cumprimento ao disposto nos artigos 35.º e 36.º do Tratado EURATOM, alterado pelos Regulamentos (UE, EURATOM) 2016/1192 e à Recomendação (COM/473/EURATOM).

 

Conceitos

«Radionuclídeo», forma instável de um nuclídeo que liberta energia sob a forma de radiação ionizante para atingir a estabilidade.

 
 

Contribuição para os ODS

Objetivos: 
  • Garantir que a RADNET se encontra operacional, possibilitando uma notificação imediata em caso de deteção de valores anómalos e uma resposta rápida e coordenada a nível nacional;
  • Garantir a monitorização de rotina da radioatividade no ambiente e a identificação de desvio nos valores com significado radiológico.

 

Análise da evolução:
Última atualização: 
Quarta, 10 Julho, 2024