Relatório do Estado do Ambiente

Cenários Macroeconómicos para Portugal, 2050


1. Introdução

 

Os cenários que se apresentam neste documento foram elaborados pelos Serviços de Prospetiva e Planeamento da Secretaria-Geral do Ambiente, com base na informação disponível até 30 de novembro de 2022, constituindo uma atualização dos cenários macroeconómicos apresentados no Relatório do Estado do Ambiente 2019 (APA, 2019), adiante designado abreviadamente por REA 2019, para o período de 1995 a 2025.
 
A atualização diz respeito aos valores de 1995 a 2021 e às previsões para 2022 a 2025. 
 
A crise vivida em 2020 e 2021 derivada da pandemia por COVID-19, veio criar incertezas para o futuro ainda não totalmente ultrapassadas. Se a economia recuperou parcialmente em 2021 e principalmente em 2022, o mesmo não se poderá dizer das cadeias de valor que arrastaram os seus efeitos aos preços. Por outro lado, as incertezas mundiais aumentaram, em resultado da guerra na Ucrânia, que exacerbou o aumento de preços principalmente da energia, que já se verificava desde 2021. Podemos, assim, apresentar apenas caminhos a percorrer num futuro incerto.
 
Salienta-se que os valores apresentados não têm o carácter de previsões, representando apenas possíveis padrões de evolução da economia nacional, os quais se relacionam, entre outros aspetos, com o enquadramento internacional, para o qual se apresentam dois cenários relativos ao Mundo e à União Europeia (UE).
 
 

2. Principais diferenças face aos cenários apresentados no REA 2019

 

Os cenários agora divulgados apresentam diferenças relativamente aos apresentados no REA 2019 e atualizações apresentadas no Relatório do Estado do Ambiente 2020/21 (APA, 2021), que resultam, designadamente, dos seguintes fatores:
 
  • Face ao cenário apresentado no REA 2019 e no que diz respeito às Contas Nacionais, dado que houve uma mudança da Base 2011 para a Base 2016 de Contas Nacionais elaboradas pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Adicionalmente, foram revistos os valores de 2020 a 2021 (ano para o qual há dados mais recentes) para as variáveis macroeconómicas nacionais de acordo com as estimativas mais recentes do INE;
  • Revisão dos cenários para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e do consumo privado e Emprego para Portugal para os anos de 2022 a 2025. Para este efeito, foram consideradas as previsões do outono de 2022 da Comissão Europeia e de outubro de 2022 do FMI, bem como as previsões mais recentes de diversas entidades nacionais, como por exemplo o Ministério das Finanças, Banco de Portugal e o Conselho de Finanças Públicas;
  • Atualização das variáveis populacionais para o ano de 2021 com os resultados do Censos 2021, nomeadamente do saldo migratório, dos nados vivos, dos óbitos e da população, de acordo com os dados disponíveis pelo INE até à data de novembro de 2021; 
  • Reviram-se os valores para os saldos migratórios em face dos resultados do Censos 2021, para os anos de 2012 a 2020. A perspetiva de redução gradual da população mantém-se, tendo em conta os cenários de longo-prazo realizados para o REA 2019;
  • Revisão dos cenários para as importações e exportações de turismo de Portugal para os anos de 2022 a 2025. Por um lado, dada a particularidade da pandemia em que as fronteiras alternaram entre fechadas ou abertas, considerando-se que o efeito seria idêntico tanto para as importações como para as exportações de turismo para o ano de 2020 e parcialmente para o ano de 2021 e, por outro lado, para refletir a significativa recuperação do turismo em 2022. Para o efeito utilizaram-se as previsões mais recentes para o PIB mundial, PIB da UE-27 e PIB português;
  • Face ao cenário apresentado no REA 2019, alteração da grandeza do PIB da UE para ter em conta o Brexit. Assim, esta variável foi revista e passou a denominar-se de UE-27, para ter em conta a saída do Reino Unido da UE;
  • Os PIB mundial e da UE-27 foram atualizados até 2021 e revistos para 2022 a 2024, para incorporar as mais recentes previsões tanto da Comissão Europeia como do FMI, dando assim corpo às implicações internacionais da guerra na Ucrânia e à crise energética (inflação);
  • Alteração dos períodos em análise por conta da disponibilidade dos dados. Assim, o primeiro período passou a ser de 2022 a 2024, o segundo período de 2025 a 2030 e, por fim, o último período de 2031 a 2050.

 

3. Crescimento económico e fatores demográficos

 

Tal como referido anteriormente, e dado que as revisões se cingiram aos anos referentes aos períodos para os quais houve revisão de dados e para os anos de 2022 a 2025 em termos nacionais e para os anos de 2022 a 2024 em termos internacionais, no longo prazo não houve alterações de tendências pesadas, resultando, assim, o crescimento económico da combinação da evolução do nível dos fatores produtivos existentes na economia e da variação da respetiva produtividade.
 
Deste modo, podemos considerar que os cenários apresentados neste exercício para o PIB em Portugal, no horizonte 2050, são relativamente otimistas (mesmo para o Cenário Baixo), atendendo aos cenários demográficos apresentados, que constituem tendências pesadas muito difíceis de inverter, a não ser com níveis muito elevados de entrada líquida de imigrantes (maiores do que os admitidos nos cenários aqui apresentados).
 
Por outro lado, e considerando o curto prazo (2023–2024), constata-se o ressurgimento de uma crise económica em Portugal, plasmada nas taxas de crescimento do PIB para os anos de 2023 e 2024, que apresentam uma forte desaceleração face ao crescimento que o ano de 2022 perspetiva. 
 
Em termos internacionais e em resultado da pandemia por COVID-19 e da crise energética agravada pela guerra na Ucrânia que tem vindo a implicar um crescimento da inflação, constata-se uma diminuição das taxas de crescimento do PIB quer mundial, quer da UE-27 (vide tabela 1). 
 
Se analisarmos o período de 2020 a 2024, para refletir não só os efeitos da pandemia como os efeitos da crise inflacionista, e face ao REA 2019, quer o PIB mundial quer o PIB da UE-27 apresentam uma perda no seu nível, refletindo-se numa quebra de 0,8 pontos de percentuais no caso do PIB mundial e de 0,7 pontos de percentuais no caso do PIB da UE-27 no seu crescimento médio entre 2020 e 2024.
 
Em termos de comparação dos períodos constata-se que para o Mundo, o crescimento do PIB de 2022 a 2050 nunca será superior ao crescimento observado para o período 2001-2021, quer para o cenário baixo quer para o cenário alto. No caso da UE-27, constata-se o fraco crescimento observado para o período de 2001 a 2021, que é ultrapassado no cenário alto até 2050, mas que só é ultrapassado no período de 2022 a 2024 no cenário baixo.
 
Quer do ponto de vista da economia internacional quer do ponto de vista da economia nacional, estes cenários partem do pressuposto que os efeitos inflacionistas iniciados em 2021 têm a sua expressão máxima em 2022 e se dissipam gradualmente entre 2023 e 2024.
 

Tabela 1 - Cenários Internacionais para o PIB

 

Taxas médias de variação anual em volume

    Observadas (a)  

Cenário Baixo

Cenário Alto
 

2001-21

2022-24 2025-30 2031-50 2022-24 2025-30 2031-50

 UE 27

1,3% 1,5% 1,3% 1,2% 1,9% 1,9% 2,0%

 Mundo  

3,5% 2,7% 2,6% 2,1% 3,1% 3,2% 3,0%

Notas

(a) Fontes para taxas de variação observadas:

- UE 27: Eurostat (30/11/2022);

- Mundo: FMI, World Economic Outlook Database 

 

Na Tabela 2 apresentam-se dois cenários (alto e baixo) para a evolução da economia portuguesa no horizonte 2050, relativamente às principais variáveis macroeconómicas e à população anual residente (dos 15 aos 64 anos). 
 
Tanto as estatísticas demográficas como as variáveis macroeconómicas têm como ponto de partida o ano de 2021 (último ano para o qual existem valores para as estatísticas demográficas e valores para as Contas Nacionais – embora ainda de carácter preliminar). 
 
Tal como se pode constatar pela observação da Tabela 2, o período de 2022 a 2024, apresenta um crescimento médio para o PIB de 2,9% e de 3,5% para os cenários baixo e alto respetivamente, o que contrasta com os dados do REA 2019, que apresentava um crescimento de 1,2% e 2,1% para os cenários baixo e alto respetivamente e para o mesmo período. 
 
O crescimento económico para o período de 2022 a 2024 beneficia claramente da recuperação da economia em 2022, que em parte reage ao período pandémico (2020-2021) e que, por outro lado, começa a beneficiar da aceleração económica proporcionada pelo início do Plano de Recuperação e Resiliência. Ainda assim, o crescimento económico neste período não é tão acentuado como poderia ser, pelo surgimento de pressões inflacionistas em 2022 que se perspetivam só virem a dissipar-se nos anos de 2023 e 2024, mas com claras repercussões no crescimento económico dos dois últimos anos deste período. 
 

Tabela 2 - Cenários para Portugal

 

      Níveis observados (a)    

Taxas médias de variação anual em volume

Observadas 

Cenário Baixo

Cenário Alto

2021

 2001-21

2022-24

2025-30

2031-50

2022-24

2025-30

2031-50

  PIB a preços de mercado

197,2 0,5 2,9 1,2 0,7 3,5 2,1 2,0

  Consumo privado dos residentes 

128,5 0,6 2,9 1,2 0,7 3,5 2,1 2,0

  Consumo dos Residentes Fora do Território  

2,6 -0,2 12,2 1,9 0,9 16,0 3,3 2,4

  Consumo dos Não Residentes fora do Território  

8,9 0,9 20,5 3,8 3,0 27,3 4,5 4,1

  Consumo privado no Território

134,8 0,7 4,1 1,5 1,1 5,1 2,3 2,3

  População residente (média anual)  

10,4 0,0 -0,4 -0,5 -0,7 -0,1 0,0 -0,1

  da qual: População dos 15 aos 64 anos

6,7 -0,2 -0,9 -1,0 -1,5 -0,5 -0,5 -0,8

  PIB per capita

19,0 0,5 3,3 1,7 1,5 3,5 2,1 2,2

  Emprego (b)

4,7 -0,1 0,6 -1,0 -1,5 1,0 -0,5 -0,8

  Produtividade do trabalho (b)

42,1 0,6 2,3 2,2 2,3 2,5 2,6 2,8

Nota: 

(a) Valores provisórios, a preços constantes (base 2016). Unidades: milhares de milhão de euros para o PIB e Consumos; milhares de euros por habitante para o PIB per capita; milhões de habitantes para a População, milhões de indivíduos para o Emprego; milhares de euros por empregado para a Produtividade do Trabalho. 

(b) Admitindo que, para 2025-50, o Emprego cresce à mesma taxa que a População dos 15 aos 64 anos.

Fontes para valores observados: PIB e Consumos: INE (valores de 2000 a 2021); Contas Nacionais atualizadas a novembro 2021; População: INE (valores de 2011 e 2021 - Censos 2011 e 2021), Estimativas de População Residente intercensitária (novembro de 2022).

 

Os cenários apresentados evidenciam uma variabilidade acentuada do crescimento económico, para os anos recentes e para os anos mais próximos. Se a incorporação da quebra verificada no ano de 2020 (variação do PIB de -8,3%), por conta dos efeitos da pandemia por COVID-19, provoca uma quebra significativa no nível do PIB e da atividade económica, por outro lado apresenta-se uma ligeira recuperação do seu nível em 2021 (com um crescimento do PIB de 5,5%) e um crescimento acima da média europeia em 2022 (6,7% no cenário baixo e 6,9% no cenário alto), ultrapassando o nível pré-pandémico do PIB. 
 
Adicionalmente, constata-se que a incorporação de uma diminuição substancial do crescimento do PIB no ano de 2023 (0,7% no cenário baixo e 1,3% no cenário alto), por conta da crise inflacionista, atenua substancialmente o crescimento do PIB no período de 2022 a 2024.
 
O “Consumo dos não residentes no território” e o “Consumo dos residentes fora do território” apresentam uma significativa recuperação em 2022 após a quebra no ano de 2020 e da ligeira recuperação de 2021. Com efeito, as exportações e as importações de turismo, que foram a face mais visível do efeito da pandemia por COVID-19 com um impacto negativo no ano de 2020 (-56,9% e -46,1% para as exportações e importações de turismo, respetivamente), representam, também elas uma recuperação substancial no ano de 2022, propagando-se para os anos de 2023 e 2024. 
 
Com efeito, e após o crescimento evidenciado em 2021 (de 27,0% e de 26,9% para as exportações e importações de turismo respetivamente - insuficiente para recuperar os níveis pré-pandémicos), os anos de 2022 a 2024 evidenciam vir a ser anos de recuperação com incerteza acrescida para o ano de 2023 devido à guerra na Ucrânia e à inflação. Assim, no ano de 2022 apresentou-se uma estimativa de crescimento de 56,8% no cenário alto (50,6% no cenário baixo) para as exportações de turismo e uma estimativa de crescimento de 38,3% no cenário alto (33,5% no cenário baixo) para as importações de turismo. 
 

 

Figura 1 - Cenários para o PIB

 

PIB: 109 euros a preços de 2016

Grafico.jpg

 

4. Metodologia e hipóteses consideradas nos cenários

 

Dado que estes cenários não foram revistos para além de 2025, nesta secção apresentam-se as diferenças face ao REA 2019.

 

4.1. Cenários internacionais

 

Tal como para Portugal, são considerados dois cenários (alto e baixo) para o PIB mundial e da UE. 
 
Para o PIB mundial atualizaram-se os anos de 2020 e 2021 e utilizaram-se as previsões do World Economic Outlook (outubro 2022) para os anos de 2022 a 2024, com variações de 3,2%, 2,7% e 3,2%, respetivamente, como cenário central.
 
Dada a concretização do Brexit, no caso do PIB da UE foi necessário rever a série do PIB excluindo o Reino Unido desta variável. Adicionalmente, utilizaram-se as previsões da Comissão Europeia do outono para rever o cenário central para os anos de 2022 a 2024, com variações de 3,3%, 0,3% e 1,6%, respetivamente.
 

 

4.2. Cenários para Portugal

 

Para Portugal apresentam-se cenários para as seguintes variáveis, no horizonte 2050:

  • População residente (média anual);

  • População residente, dos 15 aos 64 anos (média anual);

  • Produto Interno Bruto a preços de mercado;

  • Consumo Privado dos residentes (Famílias + Instituições sem fins lucrativos ao serviço das famílias);

  • Consumo dos Residentes Fora do território económico;

  • Consumo dos Não Residentes no território económico;

  • Consumo privado no território económico;

  • PIB per capita.

4.2.1. População residente

 

Os valores da População Residente para 2000 a 2021, têm como fonte as Estatísticas Demográficas do INE.

Os efeitos da pandemia por COVID-19 na população são visíveis na evolução do saldo fisiológico em 2020 e 2021 e na evolução do saldo migratório. Com efeito, quer o número de óbitos, pelo efeito do aumento da taxa de mortalidade em 2020 e 2021, quer o saldo migratório pelo efeito pandémico em que se aligeiraram processos burocráticos de legalização, permitiram que existissem andamentos diferenciados para estas variáveis. Adicionalmente, e como consequência dos resultados do Censos 2021, o saldo migratório foi revisto para o período intercensitário. 

 

4.2.2. PIB e o Consumo Privado dos Residentes

 

Até 2021 utilizaram-se, para estas duas variáveis, os valores anuais mais recentes disponíveis das Contas Nacionais, designadamente as Contas Nacionais Trimestrais provisórias do INE para 2021 e as Contas Nacionais Anuais preliminares para 2021, atualizadas pelo INE em setembro de 2022.
 
Na elaboração dos cenários para estas variáveis e para os anos de 2022 a 2025, foram tidos em conta as previsões e cenários elaborados para Portugal por diversas instituições nacionais e internacionais, designadamente pelo Ministério das Finanças (2022), pelo Conselho de Finanças Públicas (2022), pela Comissão Europeia (2022), pela OCDE (2022) e pelo FMI (2022). 
 

Para o cenário baixo admitiu-se um crescimento anual do PIB de 6,7% para 2022, de 0,7% para 2023, de 1,4% para 2024 e de 1,8% para 2025.

Para o cenário alto admitiu-se um crescimento anual do PIB de 6,9% para 2022, de 1,3 para 2023, de 2,3% para 2024 e de 2,2% para 2025.

Quanto ao Consumo Privado dos Residentes assumiu-se que de 2022 em diante a taxa do crescimento do consumo privado seria igual à taxa de crescimento do PIB para ambos os cenários. Sabendo-se da elevada importância do consumo no comportamento do PIB, a hipótese de taxas de crescimento iguais entre estas duas variáveis pareceu-nos adequada.

 

4.2.3 Consumo Privado no Território

 

O Consumo Privado no Território (CT) é igual ao Consumo Privado dos Residentes (CR) adicionando-lhe o Consumo, efetuado em Portugal, pelos Não Residentes (CNRT, também designado por Exportações de Turismo) e subtraindo o Consumo pelos Residentes, efetuado no estrangeiro (CRE, também designado por Importações de Turismo).
 
CT = CR +CNRT – CRE
 
Até 2021 utilizaram-se valores fornecidos pelo INE para estas variáveis. 
 
Para os anos de 2022 a 2025 admitiu-se uma relação de crescimento do turismo com o crescimento do PIB. No caso das exportações de turismo admitiu-se uma relação entre a variação desta variável e a variação do PIB mundial, com um atraso temporal entre a recuperação entre 2021 e 2022 maior no caso do cenário baixo. No caso das importações de turismo optou-se por se relacionar esta variável com a variação do PIB nacional.
 
Os cenários para o Consumo no Território foram depois obtidos adicionando aos valores projetados para o Consumo dos Residentes, os valores dos cenários para as Exportações de Turismo e subtraindo-lhe os das Importações de Turismo, de acordo com a equação acima apresentada. 
 

 

5. Referências