Troços de linha de costa em situação de erosão (período 1958-2021)

Português, Portugal
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APA, 2022
Os dados reportados a 2010 permitiram identificar que a extensão de linha de costa com situações críticas de erosão de litoral baixo e arenoso e baixo rochoso suportado por dunas era de 180 km, com taxas de recuo de magnitude variável. As taxas médias de recuo no período de 1958-2010 variaram entre os 0,5 m/ano e 9,0 m/ano (Santos et al., 2017; Lira et al., 2016), representando, na sua totalidade, uma perda de território nacional da ordem de 12 km2
 
Nesse período, a magnitude do processo erosivo assumiu maior expressão nas células costeiras dos troços Espinho – Torreira, praia da Barra – Mira, Figueira da Foz – Leirosa e Costa da Caparica, com recuo médio da linha de costa compreendido entre os 200 m e os 300 m (Relatório do Grupo de Trabalho dos Sedimentos, 2015). A identificação das células foi efetuada pelo Grupo de Trabalho do Litoral, em 2014, com base nas caraterísticas distintas em termos geomorfológicos e de dinâmica sedimentar da faixa costeira de Portugal Continental (Santos et al., 2017).
 
A comparação da linha de costa de 2010 com a de 2021 (obtida no âmbito do Programa COSMO) mostra que a extensão/comprimento da linha de costa afetada por erosão se mantém relativamente inalterada, isto é, não se assistiu ao desencadear do processo erosivo em novas áreas. Não obstante, mantém-se a prossecução do processo erosivo para o interior em algumas das áreas previamente identificadas em 2010, tendo-se registado até 2021 uma perda de território da ordem de 1,3 km2 (130 ha). Estima-se uma perda de território costeiro de Portugal continental nos últimos 63 anos (1958-2021) de 13,3 km2 (1 330 ha).
 
Relativamente à posição da linha de costa, a análise dos dados obtidos pelo Programa COSMO mostra uma alteração da tendência evolutiva em determinados setores costeiros entre 2010 e 2021 relativamente a 1958-2010, destacando-se os seguintes:
  • Entre o Castelo do Neiva e Esposende – agravamento das taxas de erosão em cerca de 2x;
  • Entre Ofir e a Estela – agravamento das taxas de erosão em cerca de 2x;
  • Entre Cortegaça e Furadouro – agravamento das taxas de erosão em cerca de 2x; 
  • Entre Furadouro e Torrão do Lameiro – ligeira diminuição das taxas de erosão na totalidade da extensão do troço, mas aumento de cerca 2x nos 2,5 km para sul;
  • Entre a Costa Nova e Mira – diminuição das taxas de erosão em cerca de 1/3;
  • Entre a Cova-Gala e Lavos – agravamento das taxas de erosão em cerca de 3x;
  • Costa da Caparica – estabilidade relativa;
  • Praia de Faro – estabilidade relativa.
 
As diferenças observadas na tendência evolutiva de alguns setores da linha de costa entre 2010-2021 dependem de um conjunto alargado de fatores interativos e retroativos, designadamente o forçamento oceanográfico, o contexto geomorfológico e a intervenção antrópica. Em alguns dos setores, a informação atualmente disponível não é ainda suficiente para esclarecer a totalidade das relações causa-efeito, incluindo a separação clara dos processos naturais dos de natureza antrópica.
 
A análise recente dos dados do Programa COSMO confirma o agravamento do processo erosivo entre 2010-2021 a sotamar da Figueira da Foz (setor Cova Gala – Lavos) (Pinto et al., 2021b), com recuos máximos da ordem dos 70 m, tal como previamente referido por Santos et al., 2017; André & Cordeiro, 2013; Oliveira & Oliveira, 2016.
 
A atenuação do processo erosivo em alguns dos setores identificados estará relacionada com uma série de intervenções de alimentação artificial concretizadas desde 2010 no domínio imerso, emerso e cordão dunar das respetivas áreas de influência ou a barlamar delas na mesma célula costeira (Pinto et al., 2020).
 
Os resultados obtidos no âmbito do Programa COSMO reforçam a estratégia de proteção em curso, assente na reposição parcial e manutenção do balanço sedimentar nas células costeiras com tendência erosiva instalada, precedida pela identificação já efetuada de recursos sedimentares compatíveis na plataforma continental próxima (Projeto CHIMERA – Pinto et al., 2019) e pela otimização da gestão dos dragados pelos Portos.
 
O défice sedimentar (isto é, ausência de sedimentos) extremamente elevado nas respetivas células costeiras, associado a um clima de agitação marítima, particularmente energético e a elevada magnitude da deriva litoral (isto é, sedimentos transportados longitudinalmente ao longo do litoral durante um dado intervalo de tempo) contribuem para a tendência erosiva instalada.
 
A intensidade do fenómeno erosivo, e respetivo risco associado, determinou que a maior parte do investimento efetuado no litoral na última década e meia, num total de cerca de 350 M€, fosse alocado a intervenções de proteção e defesa costeira.
 
O Programa COSMO tem quantificado a evolução da linha de costa e dos fundos adjacentes, tendo sempre como base a extensão de linha de costa de Portugal continental, de acordo com a cartografia oficial, ortofotomapas da linha de costa da Direção-Geral do Território, permitindo identificar, periodicamente, qual a extensão da linha de costa em situação crítica de erosão e quantificar a respetiva área perdida, de acordo com os critérios aplicáveis.
 
Ordem de aparecimento: 
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Indicator: 
Linha de costa em situação de erosão